Senhor,
o tempo passou depressa demais.
Eu quis fazer muito,
mas sempre esperei o momento certo,
a coragem certa,
a fé certa.
E quando olhei para trás,
meus dias já estavam gastos,
como velas acesas em silêncio.
Agora, Senhor,
minhas mãos tremem,
meus olhos cansam,
minha mente é lenta,
meu coração pesa de arrependimento.
Fiz tão pouco por Ti,
tão pouco pelos meus irmãos,
tão pouco pelo amor.
Mas se ainda quiseres, Senhor,
ainda quero ser Teu —
mesmo velho,
mesmo tarde,
mesmo com tão pouco tempo.
“Filho,
não olhes o relógio —
olha-Me.
Tu contas os anos,
Eu conto os gestos.
Tu medes a vida em tempo,
Eu a meço em amor.
Achas que chegas tarde,
mas Eu estava contigo
quando caminhavas sem saber.
Cada desvio Teu
serviu-Me de estrada.
Cada demora,
de escola.
Tu pensas que perdeste o tempo,
mas foi o tempo que te encontrou.
Eu não te queria pronto —
Eu te queria verdadeiro.
As obras que sonhaste fazer
e deixaste cair,
Eu mesmo recolhi,
e as guardo no Meu coração,
onde nada envelhece.
A juventude que lamentas
não era força —
era semente.
Agora vem o tempo da colheita,
o tempo da fé madura,
do amor que já não precisa brilhar.
Tu querias servir-Me em palcos,
mas Eu te espero nas pequenas coisas.
No vizinho que sofre,
no filho que precisa te ouvir,
no gesto que ninguém aplaude.
Não digas: “é tarde demais.”
O Meu relógio não marca horas,
marca corações despertos.
Se Me deres o que te resta,
Eu farei disso eternidade.
Porque o amor que nasce tarde
é, às vezes, o mais puro.
Ele vem sem ilusões,
vem sem pressa,
vem sabendo que tudo passa —
menos Eu.
Então, filho,
não temas o depois.
Eu sou o Deus do depois.
O Deus dos que chegam cansados,
dos que entenderam tarde,
dos que recomeçam com mãos trêmulas.
Eu sou o Deus que espera.
E o teu agora,
mesmo tardio,
é o Meu tempo perfeito.”
Autor: Ricardo Córdoba Baptista
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