Senhor,
tenho medo de começar.
Quero falar de Ti,
mas as palavras me parecem grandes demais,
ou muito pequenas.
Tenho medo de dizer bobagem,
de não estar à altura,
de confundir o Teu nome com as minhas ideias.
Então encho-me de métodos,
de esquemas, de prudências.
Procuro o jeito certo de escrever,
o tom exato,
a palavra que não Te traia.
Mas, no fundo, Senhor,
é o medo que me escreve.
O medo de me mostrar frágil,
de deixar o coração falar antes da cabeça.
O medo de parecer simples demais,
ou humano demais.
E enquanto busco o modo certo,
Tu permaneces em silêncio.
Um silêncio que não pesa —
mas espera.
Até que, cansado de mim,
solto o lápis,
baixo a cabeça,
e murmuro:
“Não sei como começar, Senhor.”
E Tu respondes, manso:
“Começa de onde estás.
Não quero frases bonitas,
quero o teu coração.
Não te peço teologia,
peço verdade.
Fala-Me do que vives,
do que temes,
do que sonhas.
Deixa que Eu escreva contigo.”
Então, Senhor,
meu medo se desfaz um pouco.
As palavras voltam —
trêmulas, desajeitadas,
mas vivas.
E descubro, enfim,
que falar de Ti
não é falar sobre Ti,
é deixar que Tu fales em mim.
Autor: Ricardo Córdoba Baptista
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