Senhor,
Somente agora, antes de dormir,
quando o barulho do dia se calou,
percebi o que não vi.

Ele estava ali,
meu colega de trabalho,
com o olhar perdido e o sorriso forçado.
Falava de coisas pequenas,
mas havia um peso por trás das palavras.
Queria apenas conversar,
desabafar um pouco,
sentir-se ouvido —
e eu não percebi.

Não foi por desprezo, Senhor,
Foi por esse egoísmo manso,
disfarçado de pressa,
que me faz pensar só em mim.
Eu estava cheio de planos,
cheio de mim.

Senhor,
dá-me sensibilidade.
Ensina-me a ver os rostos cansados
por trás dos sorrisos.
A ouvir o que não é dito,
a perceber o peso de quem finge leveza.

Faz-me sensível às pequenas dores —
aquelas que ninguém conta,
mas que Tu vês.

Toca o meu coração, Senhor,
para que ele se torne abrigo,
não muralha.
E, quando alguém vier ao meu encontro,
não permitas que eu passe distraído,
mas que eu pare,
ouça,
e esteja presente.

Porque talvez, naquele instante,
não seja apenas um colega aflito,
mas Tu,
vindo ao meu encontro
em silêncio,
esperando ser acolhido.

Autor: Ricardo Córdoba Baptista

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