Senhor,
Eu vi um pai hoje,
curvado sobre a madeira,
serrando, martelando, criando.

As mãos dele eram firmes,
mas os olhos… os olhos eram ternos.
E o filho pequeno estava ali,
com aquele brilho,
aquele brilho que que as crianças têm
quando esperam um presente.

— Fique um pouco longe, meu menino,
para não se machucar.
O brinquedo logo ficará pronto.

E o filho dava um passo atrás, obediente,
mas o coração permanecia perto,
com olhos atentos na obra do pai.

Cada martelada soava como promessa.
Cada lasca que caía era tempo transformado em amor.
O menino esperava,
e o pai moldava —
não apenas um brinquedo,
mas a confiança,
a admiração,
a ternura que ficariam para sempre.

E quando terminou,
ergueu o brinquedo
como quem oferece o pão,
como quem entrega a vida.

O menino sorriu,
e naquele sorriso, Senhor,
havia todo o céu.

Senhor,
foi assim em Nazaré, não foi?
José curvado sobre a madeira,
Jesus ao lado curioso,
o cheiro de madeira recém-cortada,
o suor do pai cansado brilhando,
cada gota unida ao esforço,
cada esforço transformado em amor.

O Pai ensinava,
o Filho aprendia,
e ninguém precisava dizer nada.
O amor falava com as mãos.

E penso, Senhor,
que talvez cada pai,
quando faz um brinquedo,
quando protege o filho de um prego ou de uma farpa,
quando sorri cansado e paciente,
revela um pouco de Ti.

Porque todo pai que constrói,
constrói mais que brinquedos —
constrói lembranças.
E toda lembrança feita com amor,
é uma oração que não se apaga.

Senhor,
ajuda-me a ver isso:
que toda vez que alguém cria algo com amor,
algo simples,
algo pequeno,
há algo sagrado acontecendo.

Porque Tu és o Deus das coisas simples.
O Deus da madeira.
O Deus dos pais cansados.
O Deus dos filhos que esperam.

Amém.

Autor: Ricardo Córdoba Baptista

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