Senhor,
a porta se fechou atrás de mim,
Fiquei só.
As paredes me olham, frias,
lembram o que fiz,
o que perdi,
e o que ainda dói.
Meus filhos…
quantas vezes os abracei só com o pensamento.
O silêncio deles pesa mais que as grades.
Eu os vejo dormindo —
e minha culpa se deita ao lado deles.
Não posso tocá-los,
mas posso rezar,
e o Senhor sabe que rezar é tocar,
pois seu amor atravessa espaços.
Aqui dentro, o tempo anda devagar,
mas o coração corre aflito.
Corro atrás do que fui,
das escolhas que me perderam,
e das mãos que soltei.
Senhor,
não peço que me devolvas o passado,
mas que me dês um novo olhar.
Que o arrependimento não me esmague,
mas me lave.
Ensina-me a nascer outra vez
— mesmo entre muros,
mesmo com as minhas irmãs que estão aqui,
cada uma trazendo sua dor e seu silêncio.
Que o perdão comece em mim,
e chegue, como um vento manso,
até os meus filhos.
E se um dia eu sair daqui,
não quero apenas ser livre das grades,
mas livre do peso que me prendia por dentro.
Então, Senhor,
abre, devagar,
a cela que ainda existe no meu coração.
E entra.
Fica comigo.
Porque só Tua presença
transforma minha prisão em esperança.
Filha,
Eu te escuto.
Antes que tua palavra subisse aos meus ouvidos,
já morava em meu coração.
Tu dizes que a cela te prende,
mas Eu te digo:
há prisões invisíveis bem maiores,
e delas Eu vim te libertar.
Não temas o ferro,
nem a lembrança que fere.
O arrependimento que te faz chorar
é o mesmo que Me permite entrar.
Teus filhos,
eles ainda estão sob o meu olhar.
Quando pensas neles,
o amor que nasce em ti
já os alcança onde estão.
Tu não estás perdida.
Estás sendo refeita.
O tempo que te dói agora
é o barro em Minhas mãos,
moldando o vaso novo.
Não olhes apenas o que fizeste,
olha o que Eu posso fazer de ti.
Nenhuma culpa é maior que a Minha misericórdia,
nenhuma porta tão trancada
que o Meu perdão não possa abrir.
Quando o dia parecer longo
e o silêncio te pesar,
senta-te comigo.
Fala-me como falas aos teus filhos.
Chora se precisares —
as lágrimas também rezam.
Filha,
Eu estou contigo na cela,
mas não estou preso.
Sou a Liberdade que te habita,
sou a Luz que ainda brilha
mesmo sob as grades.
E um dia,
quando saíres,
não carregarás correntes,
mas cicatrizes transformadas em caminhos.
Levanta-te,
a vida ainda é Minha em ti.
E Eu —
Eu nunca deixei de te amar.
Autor: Ricardo Córdoba Baptista
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