Senhor,
hoje briguei.
Falei demais,
bati com palavras,
feri quem eu mais amo.

Foi rápido,
como um trovão que não se anuncia.
A raiva subiu,
a razão sumiu,
e o coração ficou apertado.

Agora o quarto está quieto,
mas dentro de mim há tempestade.
Por que sou assim, Senhor?
Por que esse fogo me toma,
por que essa raiva nasce tão fácil,
por que o orgulho fala mais alto que o amor?

Às vezes me sinto dividido:
um pedaço de mim quer Te seguir,
outro quer vencer, provar, ter razão.
E quando me dou conta,
Teu nome já ficou para trás
entre os gritos e as ofensas.

Senhor,
eu não quero ser assim.
Quero aprender a calar,
a respirar antes de ferir,
a transformar o impulso em silêncio,
e o silêncio em oração.

“Meu filho,
Eu te entendo.
O fogo que te inquieta
é o mesmo que Eu pus em ti
para amar com paixão,
para lutar contra o mal,
para defender o bem.
Mas, se o fogo foge do altar,
queima em vez de iluminar.

Não apagues teu ardor —
aprende a oferecê-lo.
Quando sentires raiva,
fala Comigo antes de falar com os homens.
Quando o orgulho ferver,
lembra-te de que o mais forte
é quem se ajoelha primeiro.

Não te condenes, filho,
todos os que Me amaram aprenderam assim:
caindo e recomeçando.

Olha São Pedro —
impetuoso, colérico, contraditório.
Negou-Me três vezes,
e foi justamente o seu arrependimento
que o tornou rocha da fé.

Olha Santo Inácio de Loyola —
guerreiro de sangue quente,
ferido na batalha,
orgulhoso de sua espada e de suas vitórias.
Quando a guerra acabou,
ele pensou que tudo tinha terminado,
mas foi ali, ferido,
que Eu o visitei.

A espada que antes cortava,
ele aprendeu a erguer em oração.
E o fogo que o fazia lutar por glória
passou a fazê-lo lutar por almas.

Tu não és pior do que eles,
apenas estás no início do mesmo caminho.

O importante não é nunca ferir,
mas querer sempre curar.
Não é nunca cair,
mas sempre levantar-te e voltar a amar.

Eu não quero um coração frio,
quero um coração vivo,
mesmo que ainda desajeitado.

O tempo e a graça farão o resto.
Deixa-Me moldar-te aos poucos,
como o mar molda a rocha —
devagar, mas para sempre.”

Senhor,
obrigado por não desistires de mim.
Eu sou jovem, sou impaciente,
mas quero mudar.

Dá-me Tua paciência,
Tua mansidão,
Tua força que não grita.

Ensina-me a vencer sem machucar,
a corrigir sem humilhar,
a ter razão sem perder o amor.

E quando eu errar de novo —
porque ainda vou errar —
não deixes que o desânimo me vença.
Abraça-me, Senhor,
como quem ensina um filho a caminhar.

Um dia,
quando o coração enfim aprender,
quero olhar para trás e sorrir:
não porque fui perfeito,
mas porque Te deixei transformar-me.

Amém.

Autor: Ricardo Córdoba Baptista

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